Sinergia e colaboração entre Prevenção a Fraudes e PLD

As informações de prevenção a fraudes (“Fraude”) podem desempenhar um papel crucial na prevenção à lavagem de dinheiro (“PLD”) de várias maneiras. Embora sejam conceitos distintos, a colaboração entre as equipes de prevenção a fraudes e PLD (“crimes financeiros”) pode ser altamente benéfica para identificar atividades suspeitas e mitigar riscos financeiros.

Os reguladores – brasileiros e ao redor do mundo – vêm cobrando fortemente as instituições financeiras para aplicação de processos mais robustos visando prevenir fraudes, dado que os produtos e serviços estão sendo realizados de forma mais rápida e “distante” do cliente (via app), o que melhora a experiência do cliente, mas também se torna uma oportunidade para os golpistas cometerem crimes, o que vem crescendo por meio de esquemas cada vez mais robustos e criativos.

Sendo assim, existem diversas formas de ampliar a sinergia e cooperação entre os times que gerenciam riscos de crimes financeiros (Fraude e PLD). Aqui estão algumas maneiras pelas quais as informações de prevenção a fraudes podem ajudar na prevenção à lavagem de dinheiro tanto do ponto de vista de programas de Conheça Seu Cliente (KYC, ou Know Your Client, em inglês), monitoramento transacional, dados e sistemas:

Análise de Perfil de Cliente: As informações de prevenção a fraudes podem ajudar na criação de perfis de clientes que destacam atividades suspeitas. Isso pode ser comparado com perfis de clientes típicos para identificar desvios que podem indicar lavagem de dinheiro. Classificar o cliente/operações e compartilhar estas informações entre as áreas de Prevenção a Fraude e Prevenção à Lavagem de Dinheiro representam um método eficaz que irá considerar pontos de riscos com vieses diferentes que convergem em um único objetivo – proteger a instituição e seus reais clientes. Lembrando que de acordo com a circular 3.978 é imprescindível que um programa de prevenção à lavagem de dinheiro classifique o risco de seus clientes visando um monitoramento mais efetivo por meio da abordagem baseada em riscos (“ABR”). A troca destas informações ajudam ambas as áreas no gerenciamento dos riscos e no aumento da eficiência de seus processos, os quais serão abordados em um futuro artigo.  

Uso de Dados de Cliente e Transações: As informações sobre clientes coletadas pela equipe de prevenção a fraudes podem ajudar a PLD a entender melhor os relacionamentos comerciais e a identificar discrepâncias ou informações suspeitas que requerem investigação adicional e vice versa – quanto mais “rico” for o KYC mais assertivo e eficaz serão os processos para prevenção de crimes financeiros. Além disso, o uso de dados transacionais contribui ativamente para ambos times no entendimento de padrões comportamentais que devem servir como base para uma melhoria contínua na automatização de processos por meio de regras e inteligência artificial, tornando o combate a crimes financeiros mais assertivo, eficiente e eficaz. Além disso, por meio de dados as instituições podem alavancar seus processos fazendo uso de tecnologias que possibilitam acompanhar o ritmo de seus crescimentos, mantendo um time adequado, e se antecipar frente aos crescentes riscos e criminosos que possuem cada vez mais criatividade e recursos.

Análise de Transações Suspeitas: As equipes de prevenção a fraudes frequentemente analisam transações em busca de comportamentos que possam indicar fraude. Essa mesma análise pode identificar transações que são consistentes com técnicas de lavagem de dinheiro, como fracionamento de valores, transações de alta frequência, alta velocidade nas movimentações, transações envolvendo países de alto risco ou transações realizadas fora do período habitual (madrugada) e de forma contumaz a terceiros com diversas entradas/saídas.

Detecção de Padrões Anômalos: As equipes de prevenção a fraudes muitas vezes têm ferramentas e sistemas avançados para identificar padrões de atividades suspeitas e de maneira real-time ou near-real-time. Esses mesmos padrões podem indicar atividades de lavagem de dinheiro, como transações não usuais, transferências internacionais incomuns ou comportamento inconsistente. Vale ressaltar que todo crime de Lavagem de Dinheiro está atrelado a um crime antecedente, sendo a aplicação de golpes (fraude) um deles. 

Integração de Ferramentas Tecnológicas: O uso de sistemas e tecnologias avançadas de detecção de fraudes pode ser estendido para auxiliar na detecção de atividades de lavagem de dinheiro. As mesmas soluções podem ser ajustadas para identificar indicadores de ambas as atividades ilícitas. Criação de scoragem e matrizes de ABR para geração de alertas, utilizando modelagem e histórico de análise ajudará a Instituição a focar seus esforços nas situações de maior risco, otimizando tempo e aumentando a eficiência do time. 

Compartilhamento de Inteligência: A colaboração entre as equipes de prevenção a fraudes e PLD permite o compartilhamento de inteligência sobre tendências emergentes, técnicas de combate a crimes financeiros e informações sobre entidades de alto risco. Isso pode melhorar a capacidade de ambas as equipes de identificar comportamentos suspeitos. Adicionalmente, feedback dos reguladores, relatórios e indicadores de mercados podem contribuir com melhorias em ambas as funções dentro das instituições financeiras.

Treinamento e Conscientização: Além dos tópicos já citados, existem outras formas de contribuição entre os times que atuam no combate a crimes financeiros que vão além das próprias estruturas. Treinamento e conscientização, por meio de programas de capacitação e planos de comunicação, contribuem para a cooperação entre os times e ampliam o engajamento e cobertura no combate a crimes financeiros com a participação direta e indireta de diversos departamentos e funcionários. 

A colaboração entre as equipes pode incluir treinamento e conscientização conjunta sobre questões de PLD e fraudes. Isso ajuda os funcionários a entenderem a interconexão entre as duas áreas e melhora a detecção e ação.

Lembre-se de que a prevenção a fraudes e a prevenção à lavagem de dinheiro são desafios complexos que requerem abordagens multifacetadas e devem sempre partir de uma abordagem baseada em riscos desenvolvida por cada instituição a partir de seu apetite de riscos com esforços para melhoria contínua. A colaboração entre diferentes equipes e a integração de informações podem melhorar a capacidade geral de uma instituição financeira de identificar e combater atividades ilícitas.

Autor: Roger Miura
Profissional com mais de 15 anos de experiência na área de prevenção à lavagem de dinheiro e projetos tecnológicos voltados para este tema. Atuação em grandes instituições financeiras nacionais e internacionais. Integra a Diretoria Executiva do ACAMS Brasil Chapter, possui o Certified Anti-Money Laundering Specialist (CAMS) e PQO BM&Fbovespa. Bacharel em Ciências da Computação, pós-graduado em Administração Internacional de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas e pós-graduado em empreendedorismo pela University of California San Diego.

Autor: Leonardo Prado
Profissional com mais de 10 anos de experiência nas áreas de Compliance, Prevenção à Lavagem de Dinheiro, Prevenção a Fraudes, Gerenciamento de Riscos e Auditoria Interna e Independente com atuação em grandes instituições financeiras nacionais e multinacionais – atualmente atuando em fintech baseada em Dubai. Graduado em Administração e Contabilidade – ambas no Mackenzie, pós-graduado em Gestão de Projetos e Gestão de Pessoas – ambas pelo Insper.